Hoje, a discussão reinante no cenário econômico repousa sobre a crise das economias europeias e americanas. Diante deste momento, faremos nestes primeiros posts do blog uma série de postagens explicando como a atual crise americana e europeia começaram. No entanto, para discutir a atual crise, devemos considerar os eventos que levaram o mundo à beira do abismo em 2008.
Se existe um ponto chave que deu origem à crise de 2008, este ponto se chama subprime. Desde a década de 80, com a revolução conservadora de Margaret Thatcher e Ronald Reagan, o mundo começou a experimentar um período de liberalização econômica que se estenderam inclusive às regulações financeiras.
Com a inflação controlada de 1980 até 2006, o FED conseguiu manter os juros da economia americana em um patamar bem baixo e, com isso (juros baixos), os bancos americanos começaram a procurar por maiores fontes de lucros.
Uma opção foram os países emergentes. Emprestar dinheiro para os emergentes à elevadas taxas de juros parecia ser um “maná dos deuses”. No entanto, com as crises asiáticas, russa e etc, os ganhos passaram a ser arriscados nesses países.
Então, se ficou arriscado lucrar com os emergentes, onde os bancos poderiam auferir maiores lucros? (afinal, aumentar os lucros é o objetivo das instituições capitalistas, certo?). Uma saída foi o mercado imobiliário americano.
O mercado hipotecário americano funcionava com os bancos concedendo financiamentos aos tomadores e o próprio imóvel comprado servia como garantia. Portanto, os bancos lucrariam com as taxas de juros do financiamento. Quanto maior esta taxa, maior o lucro.
Mas como um banco chega à taxa de juros que deve cobrar a seus clientes?
Eles utilizam modelos estatísticos que consideram o histórico do cliente (séries históricas) com o intuito de avaliar o risco do cliente. Quanto maior o risco (calote) maior deve ser o prêmio (prime) do banco, maior o juros cobrados. Apesar de modelos matemáticos complexos, o que está por trás é uma ideia simples: Por exemplo, um cliente com renda e emprego estáveis tem um risco menor que um cliente que possuí renda estável e não tem emprego fixo (profissional liberal, por exemplo).
Como até 2006 a economia americana estava “próspera”, o fato de alguns clientes não terem empregos fixos não representava um problema de risco de calote (lembre que o modelo estatístico olha para o histórico do cliente). Sendo assim, os bancos começaram atrair os clientes NINJA (No income, no Jobs and no assets) com juros baixos no início do contrato e com revisões periódicas dessas taxas no futuro.
Então os bancos ficaram com todo esse risco dos clientes NINJA?
Não. Com base nesses empréstimos NINJA, os bancos criavam títulos que eram lastreados nessas hipotecas podres (subprimes) e vendiam para outros bancos ou clientes (processo conhecido como securitização). Essa securitização colocava essas hipotecas em “pacotes” com outros ativos, o que tornava muito difícil enxergar que esses títulos eram lastreados em ativos de alto risco.
Não é difícil imaginar o que ocorreu quando os contratos de hipotecas eram revisados. Os juros aos clientes subiam e estes se viam incapazes de quitar a dívida e, consequentemente, esses títulos que os bancos venderam para outros começaram a perder valor rapidamente. Empresas que possuíam parte dos seus ativos baseados nestes títulos queriam vendê-los o mais rápido possível, jogando o valor dos mesmos ainda mais para baixo.
Diante deste cenário, mesmo as instituições saudáveis começaram a retrair seus empréstimos, reduzindo a atividade da economia, provocando desemprego. O mundo, por meio de um efeito cascata, ia em direção ao abismo financeiro.
Claro que a falta de regulação financeira teve um papel preponderante na crise de 2008, mas os remédios para ela, os efeitos para o Brasil e como chegamos à crise de hoje nos EUA e Europa serão temas dos próximos posts aqui no BLOG.
Sugestões de leitura:
- “Entendendo a recente crise financeira global” por Fernando Cardim de Carvalho.